Antoine Compagnon- crítico literário
respeitado e conhecido mundialmente- confrontou-se com um desafio em 2012:
falar de Montaigne para um programa de rádio durante o verão. O resultado
dessas intervenções foi publicado sob o
título Un été avec Montaigne (Um verão com Montaigne).
Trata-se de um livrinho composto de
quarenta capítulos nos quais Compagnon aborda diferentes aspectos dos Essais (1595). O texto pode ser lido como uma iniciação à obra do escritor renascentista.
Nesse sentido, o leitor descobre temas caros a Montaigne: a conversa, a
fidelidade, as condições para a filosofia, o outro, a amizade, os livros, o
retiro, o cepticismo e a morte.
Constatamos características da
personalidade do autor dos Essais como
por exemplo o fato dele lançar-se a uma conversa ou discussão não para vencer,
mas para conhecer e aprender. Assim, Montaigne respeita as opiniões diferentes
da sua, não se sentindo humilhado quando divergem de suas posições. O pensador
não apreciava os interlocutores arrogantes que procuravam ter a última palavra a
qualquer preço. Montaigne não começava uma conversa como se estivesse entrando em uma
guerra. A propósito, o magistrado bordalês lamentava que seus contemporâneos não
o contestassem muito por receio de serem
eles próprios contrariados. Assim, cada um se fechava com sua própria convicção.
Compagnon lembra a conhecida passagem que
relata o encontro de Montaigne e três índios brasileiros (da França antártica)
em 1562. Os habitantes do Novo Mundo surpreendem-se com o poder absoluto dos
reis e com a obediência a uma criança - Carlos IX tinha doze anos! Os índios
não entendiam tampouco o abismo que separava pobres e ricos.
A propósito, o autor dos Essais critica asperamente o fato de os
europeus tentarem mudar os habitantes do Novo Mundo. Os índios foram
corrompidos com o contato dos povos ditos civilizados. Ele foi, sem dúvida, um
dos primeiros censores do colonialismo como sublinha Compagnon.
O professor do Collège de France examina
pormenores do ensaísta como a sua grande sensibilidade à ambiguidade dos
textos. Isso se deve muito provavelmente à sua formação de jurista, afirma
Compagnon. De fato, o autor renascentista acredita que boa parte dos males do
mundo se deve a questões gramaticais. Ele é bastante irônico em relação aos
autores medievais que faziam glosas. Para Montaigne, seria fundamental a volta
aos textos originais de Platão, Plutarco ou Sêneca.
Em outro momento, Montaigne tece elogios à
viagem- por seu poder desestabilizador. A viagem é
uma metáfora da vida afirmava o filósofo.
O capítulo 25 é dedicado ao livro: uma das
grandes paixões do autor dos Ensaios. A
leitura seria superior a qualquer tipo de relacionamento humano- ela nos leva a
nos conhecer melhor.
Vale a pena mergulhar no mundo de Montaigne
e para iniciar, nada mal esse livrinho de um dos mais férteis críticos do
momento.
Un
éte avec Montaigne
de Antoinde Compagnon. Paris: Éditions des Équateurs, 2013.
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