« Vou mais longe :
Digo-vos que é Preciso Olhar Todos os Homens como Irmãos. O quê! Meu Irmão, o
Turco? Meu Irmão, o Chinês? O Judeu?” (Voltaire- Tratado sobre a Tolerância)
Esquadro, pincel
atômico, lápis, tampa de caneta, apontador e borracha sugerem um rifle, a frase
“às armas cidadãos” completa a homenagem criada pelo cartunista chileno
Francisco Olea às vítimas do atentado ao jornal Charlie Hebdo. Essa imagem
lembra-nos de imediato o mais opiniático batalhador pela liberdade de expressão
não apenas na França, mas em toda Europa das Luzes- Voltaire. A semelhança advém de dois aspectos
essenciais: o alvo das ofensivas e a arma utilizada. De fato, tanto o filósofo
quanto seus compatriotas jornalistas e chargistas do semanal satírico tinham
como mira privilegiada (embora não única) a intolerância.
O autor de Cândido ou o Otimismo destilava seu fel contra aqueles que, em nome da Fé religiosa, incitavam à violência e às batalhas sangrentas. Os cidadãos- submersos no medo- professavam a religião oficial, não havia escolha, para viver em solo francês, devia-se obrigatoriamente seguir a religião do rei.
No Antigo Regime, com exceção do período que se estendeu do edito de Nantes (1598) ao edito de Fontainebleau ( 1685), no qual os protestantes desfrutaram de poucas liberdades, não havia alternativa: quem abdicasse da religião católica tornava-se inimigo do Estado. Tratava-se de uma intolerância institucionalizada. Sortilégio, blasfêmia, etc. eram crimes passíveis de tortura e morte. Passemos ao largo dos tipos de suplícios (os dois primeiros capítulos de Vigiar e Punir de Michel Foucault relatam em pormenores o trabalho dos carrascos dessa época), algo de arrepiar.
O autor de Cândido ou o Otimismo destilava seu fel contra aqueles que, em nome da Fé religiosa, incitavam à violência e às batalhas sangrentas. Os cidadãos- submersos no medo- professavam a religião oficial, não havia escolha, para viver em solo francês, devia-se obrigatoriamente seguir a religião do rei.
No Antigo Regime, com exceção do período que se estendeu do edito de Nantes (1598) ao edito de Fontainebleau ( 1685), no qual os protestantes desfrutaram de poucas liberdades, não havia alternativa: quem abdicasse da religião católica tornava-se inimigo do Estado. Tratava-se de uma intolerância institucionalizada. Sortilégio, blasfêmia, etc. eram crimes passíveis de tortura e morte. Passemos ao largo dos tipos de suplícios (os dois primeiros capítulos de Vigiar e Punir de Michel Foucault relatam em pormenores o trabalho dos carrascos dessa época), algo de arrepiar.
Distante quinhentos
quilômetros de Paris, um homem beirando os oitenta anos, carne e osso e muito
doente, escrevia freneticamente ou ditava seus textos ao secretário particular.
Milionário, reconhecido como um dos grandes poetas e dramaturgos do século
XVIII, redigia o que ele chamava “fogos de artifício”. Eram textos muito curtos, de rápida e fácil
circulação e extremamente incendiários. Voltaire gostava de caricaturar as
grandes figuras bíblicas: Abrahão, Adão, Davi, Ezequiel, Jesus, Jó, José, Moisés,
Paulo, entre outros- queria dessacralizar, ressaltar o lado risível de muitas
histórias do Antigo Testamento (alvo predileto de suas charges), mas os
Evangelhos também permaneciam na mira de suas diatribes.
Voltaire acreditava no poder de demolição do riso. Desnecessário dizer que era perseguido e procurava esconder-se atrás de pseudônimos. Assim como os chargistas e demais colaboradores do jornal satírico francês, o filósofo não tinha papas na língua e ridicularizava os fanatismos de toda ordem. Os mais intolerantes na época de Voltaire, eram os católicos- os seguidores da religião oficial, então, eram alvejados impiedosamente. O patriarca queria esclarecer, abrir os olhos dos cidadãos e foi considerado inimigo do rei. De sua escrivaninha, o escritor abalava os alicerces do Antigo Regime. Qual era a sua arma? “Aquela que tem a força do raio e a leveza do vento: uma pena” (Victor Hugo).
Voltaire acreditava no poder de demolição do riso. Desnecessário dizer que era perseguido e procurava esconder-se atrás de pseudônimos. Assim como os chargistas e demais colaboradores do jornal satírico francês, o filósofo não tinha papas na língua e ridicularizava os fanatismos de toda ordem. Os mais intolerantes na época de Voltaire, eram os católicos- os seguidores da religião oficial, então, eram alvejados impiedosamente. O patriarca queria esclarecer, abrir os olhos dos cidadãos e foi considerado inimigo do rei. De sua escrivaninha, o escritor abalava os alicerces do Antigo Regime. Qual era a sua arma? “Aquela que tem a força do raio e a leveza do vento: uma pena” (Victor Hugo).
Em 2 de fevereiro de
2006, o jornal France-soir estampava na primeira página “Au secours
Voltaire!” ( Socorro Voltaire!) em
referência ao furor de alguns Estados árabes e à cólera de grupos restritos de
muçulmanos contra as caricaturas de Maomé feitas por um jornal dinamarquês e reproduzidas pelo France-soir. O defensor da liberdade de expressão e inimigo
número um da intolerância morto há mais de dois séculos continua de uma
flagrante atualidade.
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