Uma das noções mais intrincadas
do século XVIII diz respeito ao termo “libertino”. Hoje conhecemos alguns bons
estudos sobre a expressão, como o artigo de Sônia Maria Materno de Carvalho
“Libertino: um significante e seu deslizar de sentidos” no qual a autora esquadrinha
a origem da palavra e seus diferentes empregos do século XVI ao XVIII. Um estudo, porém, de cunho mais filosófico
consiste o ensaio de Eliane Robert Moraes, publicado há mais de vinte anos e (como
ocorre com os bons textos da área de Humanidades) de flagrante interesse para
estudantes, professores e leitores cultos de maneira geral.
Eliane pretende responder às
seguintes questões “[...] que sentidos tem a libertinagem no século XVIII? Quais
são seus autores? Como ela é vivida e representada por cada um deles? Que tipos
de diferenças viabiliza sua classificação em diversos gêneros? Que tipo de
regularidades faz com que se possa utilizar uma mesma palavra para defini-la?”
A
partir de um rápido panorama histórico, conhecemos a ascendência do vocábulo
“libertinagem”. Sua origem remonta ao século XVI, quando se acirram as
manifestações contra a Igreja.
Inspirando-se em Boccaccio e Maquiavel, os mais radicais representantes
desse movimento serão denominados “libertinos”.
Vale lembrar aqui a relação
com o termo “roué” (sentido próprio: “supliciado na roda” e sentido figurado:
libertino, devasso). De fato, nos século XVI e XVII “roué” encerra esses dois
sentidos, assim, os sacrílegos e blasfemos, por exemplo, recebiam o epíteto.
A partir do século XVIII, mais precisamente com o início da Regência, em
1715, começou um período de liberação dos costumes. Segundo explica Sônia Maria
Materno de Carvalho “Ambos (filósofos e libertinos) pregam a liberdade.
Para os filósofos das Luzes, porém, a liberdade é essencialmente a
possibilidade de instauração de uma ordem livre, fundada na razão. Para os
libertinos, ao contrário, a liberdade, centrada no campo da sexualidade, visa,
em última instância, a tirania de um só: a tirania do libertino.”
Vale a pena a leitura do erudito e elucidativo
ensaio de Eliane Robert Moraes Marquês de
Sade: um libertino no salão dos filósofos, seguido da novela Eugénie de Franval, do Marquês de Sade.
São Paulo, Edusc, 1992.
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