domingo, 20 de junho de 2010

Alfred Dreyfus: o culpado ideal


No final do século XIX, os franceses têm uma obsessão: reconquistar a Alsácia e a Lorena, que haviam perdido para a Prússia em 1870. Mais do que isso, precisavam recuperar o orgulho ferido durante a ocupação alemã, uma das mais humilhantes impostas a uma nação outrora vencedora. Em 1894, uma ocasião de vingança anuncia-se: os serviços de contra-espionagem francês descobre um documento endereçado ao adido militar da embaixada da Alemanha em Paris. Neste documento, encontram-se informações secretas sobre o material de artilharia francesa. Não interessava ao exército organizar um longo processo a fim de descobrir o responsável pelo vazamento das informações: era necessário encontrar rapidamente um culpado.
Com base na assinatura do dossier comprometedor, concluiu-se que a letra era do capitão Dreyfus, um jovem oficial de 35 anos, judeu, alsaciano, ou seja, aos olhos dos contemporâneos, praticamente um alemão. Feita a análise grafológica, o capitão Dreyfus foi preso por espionagem e declarado culpado de alta traição. Embora protestasse inocência, o capitão foi condenado à degradação e à deportação na Guiana, no forte da Ilha do Diabo. A família Dreyfus, convencida de sua inocência, busca auxílio político para obter a revisão do processo, porém nada consegue (continua).

domingo, 13 de junho de 2010

Vive la France! Alphonse Daudet e a guerra franco prussiana de 1870


O autor dos Contes du Lundi (1873) não se limitou a tratar somente da guerra de 1870, escreveu também sobre seus desdobramentos, como a perda da Alsácia e da Lorena, além da rebelião da população parisiense que resultou na Comuna.
Na maior parte das vezes, Alphonse Daudet ressalta o aspecto patético dos dramas vividos: deixando de lado o que se passa nos campos de batalha, prefere as anedotas sobre a invasão. Assim, a repercussão da guerra no campo e na província é privilegiada.
No conto "La dernière classe" ("A última aula"), por exemplo, M. Hamel ministra sua última aula de francês aos pequenos alsacianos, ciente de que no dia seguinte o curso seria recomeçado em alemão. Não falta humor nesta comovente história sobre a guerra , como se constata no balanço de consciência feito pelo mestre que se sentia culpado por seus alunos conhecerem mal a língua francesa: Moi-même, n´ai-je rien à me reprocher?
Est-ce que je ne vous ai pas souvent fait arroser mon jardin au lieu de travailler? ("Eu mesmo não teria nada a me reprovar? Não mandei vocês várias vezes regar meu jardim em vez de estudar?").
Um tom zombador insinua-se na história do coronel Jouve, um cuirassier (soldado de um regimento de cavalaria) do Primeiro Império que é fulminado pela notícia da derrota de Napoleão III. Este conto ilustra bem a confiança do povo no exército imperial, parecendo-lhe inverossímil a hipótese de um fracasso. A neta do coronel Jouve, para poupar-lhe a saúde, engana-lhe afirmando que os franceses haviam invadido a Alemanha. O velho combatente, porém, descobre a verdade ao escutar a marcha triunfal de Schubert sob o Arco do Triunfo.
Talvez, o mais tocante exemplo de patriotismo-no melhor sentido do termo- de Contes du Lundi seja o do conto "L´enfant espion": um senhor envergonhado vai devolver o dinheiro que seu filho ganhou traindo os interesses da França.
Constatamos que as maiores demonstrações de amor ao país vêm de pequenos empregados e camponeses, os menos informados da sociedade e o mais influenciados pelo governo imperial - a repercussão da guerra, nessa parte da população, ofereceu ao autor- uma grande riqueza de temas. Alphonse Daudet, a seu modo, foi um crítico mordaz da guerra franco-prussiana, sem se render ao pessimismo do grupo de Médan.