sábado, 25 de abril de 2015

Claude Gueux


 

Conto lindíssimo. História trágica de um operário pobre, analfabeto que vivia em Paris com a namorada e a filha dela. Em um inverno, desesperado pela falta de trabalho, decidiu roubar. Durante três dias, havia alimento em casa, mas Claude foi condenado a cinco anos de prisão.

Em pouco tempo, o operário, graças ao seu admirável carisma, passou a exercer espontânea liderança entre os demais cativos. Algumas palavras de Claude tinham o poder equivalente a de vários carcereiros. Assim, o diretor do presídio, sempre que necessitava, solicitava o apoio do novo líder- e obtinha sucesso.

              Embora o operário contasse com trinta e seis anos, aparentava cinquenta, tinha a expressão grave, era enrugado e grisalho: seu rosto revelava marcas do sofrimento. Nos primeiros tempos, pensava muito na moça que deixara, mais tarde descobre que se tornara mulher da vida. Quanto ao menino, não obtivera notícias.

            Amado pelos prisioneiros e detestado pelos guardas, Claude tivera a boa sina de fazer amizade com Albin (dezenove anos). O jovem amigo lhe cedia diariamente metade de seu prato de comida- uma benção para Claude.

               O diretor da prisão, com ciúmes do sucesso do operário entre os presos, decide, por mero capricho, transferir Albin para outro pavilhão.  Apesar dos insistentes pedidos, Claude não pode rever o amigo. Não suportando as provocações do diretor, mata-o e em seguida tenta suicídio. Claude Gueux é condenado à morte.

            A história é vazada em estilo elegante, claro e direto. Trata-se de um belo panfleto contra a pena de morte na França que só seria abolida em 1981.

                                                          Victor Hugo - 1834

 

terça-feira, 10 de março de 2015

Marquês de Sade - um libertino no salão dos filósofos: Uma jóia de ensaio




                   Uma das noções mais intrincadas do século XVIII diz respeito ao termo “libertino”. Hoje conhecemos alguns bons estudos sobre a expressão, como o artigo de Sônia Maria Materno de Carvalho “Libertino: um significante e seu deslizar de sentidos” no qual a autora esquadrinha a origem da palavra e seus diferentes empregos do século XVI ao XVIII.  Um estudo, porém, de cunho mais filosófico consiste o ensaio de Eliane Robert Moraes, publicado há mais de vinte anos e (como ocorre com os bons textos da área de Humanidades) de flagrante interesse para estudantes, professores e leitores cultos de maneira geral.
                   Eliane pretende responder às seguintes questões “[...] que sentidos tem a libertinagem no século XVIII? Quais são seus autores? Como ela é vivida e representada por cada um deles? Que tipos de diferenças viabiliza sua classificação em diversos gêneros? Que tipo de regularidades faz com que se possa utilizar uma mesma palavra para defini-la?”
                  A partir de um rápido panorama histórico, conhecemos a ascendência do vocábulo “libertinagem”. Sua origem remonta ao século XVI, quando se acirram as manifestações contra a Igreja.  Inspirando-se em Boccaccio e Maquiavel, os mais radicais representantes desse movimento serão denominados “libertinos”.
                   Vale lembrar aqui a relação com o termo “roué” (sentido próprio: “supliciado na roda” e sentido figurado: libertino, devasso). De fato, nos século XVI e XVII “roué” encerra esses dois sentidos, assim, os sacrílegos e blasfemos, por exemplo, recebiam o epíteto.
                 A partir do século XVIII, mais precisamente com o início da Regência, em 1715, começou um período de liberação dos costumes. Segundo explica Sônia Maria Materno de Carvalho “Ambos (filósofos e libertinos) pregam a liberdade. Para os filósofos das Luzes, porém, a liberdade é essencialmente a possibilidade de instauração de uma ordem livre, fundada na razão. Para os libertinos, ao contrário, a liberdade, centrada no campo da sexualidade, visa, em última instância, a tirania de um só: a tirania do libertino.”
          Vale a pena a leitura do erudito e elucidativo ensaio de Eliane Robert Moraes Marquês de Sade: um libertino no salão dos filósofos, seguido da novela Eugénie de Franval, do Marquês de Sade. São Paulo, Edusc, 1992.


domingo, 8 de fevereiro de 2015

Charlie Hebdo: viva a liberdade de expressão, a irreverência, a sátira, o riso...


                                  “Je ris de ce que je veux, quand je veux »

                                                                                                             Charb

             Como os franceses viveram longos períodos de guerras religiosas, hoje consideram a secularidade uma  conquista fundamental (data de 1905 a lei que estabelece separação entre Igreja e Estado na França). Cada indivíduo escolhe seu credo e tem a liberdade de professá-lo. Nenhuma crença é superior a outra. A laicidade não implica recusar as religiões, mas deixar as decisões administrativas ao Estado.
            Também não foi da noite para o dia que a França alcançou a liberdade de expressão tão prezada hoje no país. A história do povo francês é profundamente marcada por censuras e repressões. Basta lembrarmos-nos do século XVIII, época em que a polícia interceptava correspondências: livros eram apreendidos e as cartas que os acompanhavam eram abertas a vapor e fechadas novamente. Tal expediente era empregado pelo Cabinet Noir.
            Havia todo um sistema de espionagem a fim de abortar qualquer tipo de sedição que estivesse a caminho. Relatórios semanais eram preparados para o chefe de polícia.
            A forma de divulgar as ideias dos filósofos da Ilustração foi a publicação  secreta de textos proibidos. Muitos autores enviavam suas obras ao exterior para serem impressas e mais tarde circularem clandestinamente em terras francesas.
            O Antigo Regime representa um dos inúmeros exemplos de cerceamento da liberdade sofrido pelos gauleses. Todo esse passado de coerção levou-os a valorizar a liberdade de exprimir o próprio pensamento, fazer piadas, charges, enfim, de rir do que quiser, quando quiser. Essa liberdade tem limite: qualquer tipo de racismo e de culto ao ódio ou à violência. Nesses casos, fala-se em crime.
            Ora, Basta folhearmos as páginas do Charlie Hebdo para constatarmos que são impudentes, irreverentes, iconoclastas, anticlericais, obscenos, não são, porém, brutais disseminadores do ódio como os terroristas que os abateram. É surpreendente como várias pessoas escreveram que os chargistas foram longe demais. Pode-se ler em filigrana certa condescendência com os assassinos, embora ninguém, em sã consciência ouse aprovar o ato de barbárie que ceifou 12 vidas no dia 7 de janeiro.
            Concordamos com o jornalista dinamarquês Flemming Rose ao afirmar: “A sátira é uma das maneiras pelas quais uma sociedade aberta responde à violência, às ameaças, à barbárie. A sátira é pacífica, mesmo quando fere. Ela não mata, mas ridiculariza e expõe publicamente aquilo que os outros querem manter oculto. Evidentemente, jamais uma charge valerá a vida de uma pessoa que seja. O problema é que alguns insistem nessa ideia.”
            A reação dos terroristas contra as charges de Maomé, assim como o apoio a essa reação violenta são intoleráveis. A propósito, é necessário esclarecer que o alvo preferido dos jornalistas do Charlie Hebdo são os muçulmanos fanáticos e não Maomé como nos esclarece Sérgio Augusto:
 “[...] os humoristas do Charlie ainda preferem o profeta aos fanáticos reducionistas que se empenham em transformar o Islã numa seita satânica e homicida; daí porque frequentemente o retratam de forma simpática e sempre avacalham os jihadistas e seus correligionários.”
Insistimos na grande conquista que representou para o povo francês a sociedade laica. Um dos precursores desse ideal foi o filósofo Pierre Bayle (1647-1706) que afirmou com rigor a separação entre moral e religião. Para ele, os ateus não eram piores que os idólatras.  A fim de ilustrar essa ideia aos leitores, Bayle propunha que imaginassem um ser de outro mundo visitando a terra. Se lhe dissessem antes da visita que havia em nosso planeta homens que temiam a Deus, que precisariam viver de forma virtuosa, evitando praticar o mal para gozar da recompensa divina após a morte, o ser do outro mundo pensaria que esses homens praticariam o bem, ajudariam o próximo e evitariam o vício. Ora, tal estrangeiro se surpreenderia com a disparidade entre a crença e os atos. Os princípios não teriam necessariamente influência sobre as ações, afirma Bayle. Somos, via de regra, piedosos nas palavras e impiedosos nas ações. Pretendemos adorar a Deus e seguimos apenas as paixões.
Da mesma forma que há cristãos ortodoxos que contradizem a palavra de Deus com seus atos, há ateus que são exemplos de conduta, a título de exemplo, Bayle citava os Antigos.
           Os jornalistas do Charlie Hebdo assassinados no mês passado, embora ateus, eram humanistas voltados e engajados em questões sociais. O redator Stephane Charbonnier (Charb) defendia os muçulmanos, o que talvez muitos não saibam.
            Vale acrescentar aqui o que escreveu o jornalista Mustafá Akyol: “Antes da expansão árabe com base em motivos políticos e do endurecimento da sharia (direito islâmico), o Alcorão ensinava aos muçulmanos, cuja fé costumava ser objeto de zombaria por parte dos pagãos: ‘Deus disse no livro que quando vocês ouvirem suas revelações lançadas no descrédito e objeto de zombaria, não deverão sentar-se com eles, enquanto não mudarem de conversa; porque seguramente vocês seriam como eles. ’ Essa é a resposta que o Alcorão sugere à zombaria. Não a violência, nem mesmo a censura.”
            O próprio Alcorão ensina a tolerância e não prega a punição terrena para a blasfêmia. Surpreende-nos bastante que algumas pessoas julguem o ódio dos terroristas compreensível.
           


  

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Voltaire e a islamofilia


(Entre na Bolsa de Londres, esse local mais respeitável que muitas cortes; você verá deputados de todas as nações reunidos para a utilidade dos homens. Lá, o judeu, o maometano e o cristão tratam-se como se fossem da mesma religião, só chamam infiéis aqueles que vão à falência...” (Cartas inglesas, 1734)

Na verdade, a relação de Voltaire com a islã é complexa, muitas vezes ele atacava o maometismo, mas queria atingir indiretamente o cristianismo- preferencialmente os católicos. São numerosos os textos de Voltaire tendo como  tema Maomé. Pretendo voltar ao assunto em outras ocasiões.
Os filósofos do século XVIII na França nutriam interesse imenso pelas religiões de outras partes do planeta. As viagens à Turquia, ao Japão, à China e à Índia contribuíram para que os europeus descobrissem que o cristianismo não era a única forma de adorar a Deus. Como nos explica René Pomeau (« Une Idée neuve au XVIIIe, la tolérance »), a crescente importância das narrativas sobre viagens  dos comerciantes  e dos marinheiros que percorreram  países longínquos, descobrindo os mais variados  tipos de crenças e ritos deram impulso ao caminho da tolerância. Graças aos escritos inspirados nessas aventuras, a filosofia das Luzes toma melhor consciência de outras religiões. Sobretudo a mais próxima dos europeus: o islã.
Para a criação de certa islamofilia, Voltaire desempenhou papel decisivo com os dois capítulos sobre Maomé e o mundo muçulmano em seu Ensaio sobre os Costumes. Segundo o filósofo, o islã não se impusera pelas armas, mas pelo entusiasmo e pela persuasão, além de ser indulgente e tolerante.






quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Mais do que nunca “socorro Voltaire”!




                                                                                     « Vou mais longe : Digo-vos que é Preciso Olhar Todos os Homens como Irmãos. O quê! Meu Irmão, o Turco? Meu Irmão, o Chinês? O Judeu?” (Voltaire- Tratado sobre a Tolerância)



Esquadro, pincel atômico, lápis, tampa de caneta, apontador e borracha sugerem um rifle, a frase “às armas cidadãos” completa a homenagem criada pelo cartunista chileno Francisco Olea às vítimas do atentado ao jornal Charlie Hebdo.    Essa imagem lembra-nos de imediato o mais opiniático batalhador pela liberdade de expressão não apenas na França, mas em toda Europa das Luzes- Voltaire.  A semelhança advém de dois aspectos essenciais: o alvo das ofensivas e a arma utilizada. De fato, tanto o filósofo quanto seus compatriotas jornalistas e chargistas do semanal satírico tinham como mira privilegiada (embora não única) a intolerância. 
   O autor de Cândido ou o Otimismo destilava seu fel contra aqueles que, em nome da Fé religiosa, incitavam à violência e às batalhas sangrentas. Os cidadãos- submersos no medo- professavam a religião oficial, não havia escolha, para viver em solo francês, devia-se obrigatoriamente seguir a religião do rei.  
  No Antigo Regime, com exceção do período que se estendeu do edito de Nantes (1598) ao edito de Fontainebleau ( 1685), no qual os protestantes desfrutaram de poucas liberdades, não havia alternativa: quem abdicasse da religião católica tornava-se inimigo do Estado. Tratava-se de uma intolerância institucionalizada. Sortilégio, blasfêmia, etc. eram crimes passíveis de tortura e morte. Passemos ao largo dos tipos de suplícios (os dois primeiros capítulos de Vigiar e Punir de Michel Foucault relatam em pormenores o trabalho dos carrascos dessa época), algo de arrepiar.
    Distante quinhentos quilômetros de Paris, um homem beirando os oitenta anos, carne e osso e muito doente, escrevia freneticamente ou ditava seus textos ao secretário particular. Milionário, reconhecido como um dos grandes poetas e dramaturgos do século XVIII, redigia o que ele chamava “fogos de artifício”.  Eram textos muito curtos, de rápida e fácil circulação e extremamente incendiários. Voltaire gostava de caricaturar as grandes figuras bíblicas: Abrahão, Adão, Davi, Ezequiel, Jesus, Jó, José, Moisés, Paulo, entre outros- queria dessacralizar, ressaltar o lado risível de muitas histórias do Antigo Testamento (alvo predileto de suas charges), mas os Evangelhos também permaneciam na mira de suas diatribes. 
     Voltaire acreditava no poder de demolição do riso. Desnecessário dizer que era perseguido e procurava esconder-se atrás de pseudônimos. Assim como os chargistas e demais colaboradores do jornal satírico francês, o filósofo não tinha papas  na língua e ridicularizava os fanatismos de toda ordem.  Os mais intolerantes na época de Voltaire, eram os católicos- os seguidores da religião oficial, então, eram alvejados impiedosamente.  O patriarca queria esclarecer, abrir os olhos dos cidadãos e foi considerado inimigo do rei. De sua escrivaninha, o escritor abalava os alicerces do Antigo Regime. Qual era a sua arma? “Aquela que tem a força do raio e a leveza do vento: uma pena” (Victor Hugo).
     Em 2 de fevereiro de 2006, o jornal France-soir  estampava na primeira página “Au secours Voltaire!” ( Socorro Voltaire!)  em referência ao furor de alguns Estados árabes e à cólera de grupos restritos de muçulmanos contra as caricaturas de Maomé feitas por um  jornal dinamarquês e reproduzidas pelo France-soir.  O defensor da liberdade de expressão e inimigo número um da intolerância morto há mais de dois séculos continua de uma flagrante atualidade.



domingo, 11 de janeiro de 2015

Quelle est la visée du libertinage sadien?

(suite et fin de l´article du 24 décembre 2014)         

Le philosophe préconisera un nouveau système politique, la république, qui remplacera la monarchie. Puisque traditionnellement la religion se charge de prescrire les normes de conduite, elle devra être 
la première cible des Français. Leur tâche  étant de mettre à terre  un à un tous les dogmes 
jusqu´alors  respectés ; tous les enseignements absurdes, mensongers et sophistiques des prêtres devront disparaître sans même laisser de traces : « ...déracinez tout à fait une plante dont les effets sont  contagieux », p. 189.
         Car si l´on admet la moindre tolérance à l´égard de la religion (Sade se réfère à tous les cultes déistes, mais surtout au catholicisme, religion officielle de l´Ancien Régime) non seulement l´on risque de la voir renaître avec encore plus de force, mais ses défenseurs lutteront aussi contre les idéaux de la république. D´où la nécessité de se délivrer à la fois du « sceptre » et de « l´encensoir ».  Une fois , donc, supprimés tous les préjugés, il restera aux Français la mission de changer radicalement les moeurs. Il ne s´agit  pas seulement d´une réforme, mais  d´une vraie révolution : « vous qui avez la faux à la main, portez le dernier coup à l´arbre de la superstition ».    
         Aucune loi ne devrait  nous contraindre de jouir d´une liberté sans bornes. Il n´y aura plus de place  à l´obéissance aveugle. Si  l´on doit se soumettre à une loi, ce sera celle  de la nature. Ainsi, tous nos besoins, nos désirs les plus cachés se manifesteront.
         Il va de soi que dans un système semblable, tout ce qui auparavant était considéré comme délit sera jugé autrement.
         La calomnie, le vol, l´impureté et le meurtre seront non seulement  admis mais ne devront plus inquiéter le législateur, car celui-ci « ne doit jamais étudier l´effet  du délit qui ne frappe qu´individuellement ; c´est  son effet en masse qu´il doit examiner. » Sade  fait l´apologie  de ces actes en se servant des exemples de l´Antiquité gréco-romaine. On remaquera, par ailleurs, que Sade insiste sur l´aspect rationnel de ces affirmations, conçues sous  le « flambleau  de la philosophie ». Lycurgue et Sénèque sont souvent appelés pour appuyer ses arguments. En imaginant les éventuelles critiques à son système, il essaye de les réfuter par avance afin de nous  convaincre de sa légimité. Nous verrons que l´exposition de certaines idées peut  nous paraître convainquante. Prenons par exemple son opinion sur le vol : « j´oserai demander si le vol dont l´effet est d´égaliser les richesses, est un grand mal dans un gouvernement dont le but est l´égalité ». Cette assertion nous frappe, certes, par sa hardiesse, pourtant, si l´on veut vraiment rendre la société moins inégale suivant les principes républicains les plus élémentaires ne serait-il  pas juste  de mettre en échec la question de la propriété ?   
      L´idéal sadien, ce sont des citoyens autosuffisants, libres de donner libre cours à toutes leurs  passions : « ...tous les hommes sont nés libres, tous  sont égaux en droit » Ibid., p. 225. À cet égard, sa théorie présente des contradictions car  on y verra une impasse en ce qui concerne la liberté pour tous  et l´égalité.
         La volonté d´un homme se heurtera toujours à celle d´un autre. On verra une lutte entre  des faibles et des forts se dérouler sur  tous les plans y compris le plan sexuel. Les délits dits moraux tels la prostitution, l´adultère, l´inceste, le viol et la sodomie n´auront plus le statut de crime.
         Dans ce domaine le despotisme de l´homme atteint son comble. Rappelons  des réflexions clés du pamphlet lu par Dolmancé : « Toutes les fois que vous ne donnerez pas à l´homme le moyen secret d´exhaler la dose de despotisme que la nature mit au fond de son coeur, il se rejettera pour l´exercer sur les objets qui l´entourent, il troublera le gouvernement » Ibid, p. 218.
         En effet, ce despostisme autorisera la violence, car  c´est  une loi de la nature. Une des preuves en sera la différence de constitution physique entre les deux sexes. Les femmes sont censées satisfaire toutes les fantaisies de l´homme. Sade  essaie, en vain, de rétablir la balance en assurant leur droit de se livrer aux plaisirs, à la luxure : « ... absolument dégagées de tous les liens de l´hymen, de tous les faux préjugés de la pudeur... » p. 225.
         L´inceste sera le bienvenu dans la nouvelle république puisqu´il rattache les liens. L´adultère et la prostitution recommandés et finalement, la sodomie et le viol protégés par les lois.
         Si le nouveau système anéantit les préjugés, on peut néanmoins se demander pourquoi il utilise le mot « écarts » pour désigner des actions tels  l´inceste, l´adultère et la sodomie.
         Là Philippe Roger  nous explique en parlant  du libertin sadien : « Son plaisir a besoin de l´écart. Il voudrait bien que le crime en fût vraiment un ». Et plus tard il ajoute : «  Au libertin donc de faire, pour son grand plaisir, sa propre police du monde. A lui de faire des lois, pour avoir enfin quelque chose à déranger ; à lui  de fixer, puisque  tout coule ; à lui  d´imposer pour  controvenir »  ( La philosophie dans le boudoir, p. 128). Les concepts jusqu´alors tenus comme indiscutables tels l´amour, la justice, le vrai ne sont pas seulement remis en cause mais montrés sous l´angle de la démystification.
         C´est peut-être pour cela que le titre de philosophe lui a été réfusé : « (...) c´est manière d´avouer que toute philosophie n´est pas bonne à dire ». Ibid,p. 221.
         Sade est avant tout un libertin, mais pourquoi pas un philosophe-libertin ?
         Et sa visée sera anti-nature si l´on se place  au point de vue de Rousseau et Diderot qui ont, eux,  croyé à la vertu comme base d´une société juste.

         Mais  du point de vue de Sade, le libertinage est conforme à la nature. Sade s´oppose à la vision de l´homme  comme bon à priori. 
         La théorie sadienne rend, donc, compte de l´égoïsme et des instincts destructeurs de l´homme. Elle veut  le démasquer. Faire disparaître en lui son vernis social. Enfin, on peut ajouter que le système qu´il profère est avant tout pessimiste, et  obscurantiste, finalement il vise peut-être à renverser le mythe du Progrès, ce qui fait de lui un isolé dans son siècle.