terça-feira, 10 de março de 2015

Marquês de Sade - um libertino no salão dos filósofos: Uma jóia de ensaio




                   Uma das noções mais intrincadas do século XVIII diz respeito ao termo “libertino”. Hoje conhecemos alguns bons estudos sobre a expressão, como o artigo de Sônia Maria Materno de Carvalho “Libertino: um significante e seu deslizar de sentidos” no qual a autora esquadrinha a origem da palavra e seus diferentes empregos do século XVI ao XVIII.  Um estudo, porém, de cunho mais filosófico consiste o ensaio de Eliane Robert Moraes, publicado há mais de vinte anos e (como ocorre com os bons textos da área de Humanidades) de flagrante interesse para estudantes, professores e leitores cultos de maneira geral.
                   Eliane pretende responder às seguintes questões “[...] que sentidos tem a libertinagem no século XVIII? Quais são seus autores? Como ela é vivida e representada por cada um deles? Que tipos de diferenças viabiliza sua classificação em diversos gêneros? Que tipo de regularidades faz com que se possa utilizar uma mesma palavra para defini-la?”
                  A partir de um rápido panorama histórico, conhecemos a ascendência do vocábulo “libertinagem”. Sua origem remonta ao século XVI, quando se acirram as manifestações contra a Igreja.  Inspirando-se em Boccaccio e Maquiavel, os mais radicais representantes desse movimento serão denominados “libertinos”.
                   Vale lembrar aqui a relação com o termo “roué” (sentido próprio: “supliciado na roda” e sentido figurado: libertino, devasso). De fato, nos século XVI e XVII “roué” encerra esses dois sentidos, assim, os sacrílegos e blasfemos, por exemplo, recebiam o epíteto.
                 A partir do século XVIII, mais precisamente com o início da Regência, em 1715, começou um período de liberação dos costumes. Segundo explica Sônia Maria Materno de Carvalho “Ambos (filósofos e libertinos) pregam a liberdade. Para os filósofos das Luzes, porém, a liberdade é essencialmente a possibilidade de instauração de uma ordem livre, fundada na razão. Para os libertinos, ao contrário, a liberdade, centrada no campo da sexualidade, visa, em última instância, a tirania de um só: a tirania do libertino.”
          Vale a pena a leitura do erudito e elucidativo ensaio de Eliane Robert Moraes Marquês de Sade: um libertino no salão dos filósofos, seguido da novela Eugénie de Franval, do Marquês de Sade. São Paulo, Edusc, 1992.


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