segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Voltaire: um vil adulador?

Voltaire tinha um pé na aristocracia e outro no “partido dos filósofos”. Devido à faceta de cortesão, recebeu duras críticas de seus contemporâneos e da posteridade. Há quem acredite, no entanto, que a decantada bajulação aos poderosos não passava de mais uma tática voltairiana. Em seu artigo “Histoire et politique: quelques réflexions autour du Parlement de Paris”, Diego Venturino observa: “Com efeito, Voltaire é um falso devoto. Aparentemente entra nos templos da tradição histórica como fiel, mas na verdade destrói suas bases”. Ressalto que até hoje a memória do filósofo sofre tanto com a pecha de adulador quanto com a de destruidor de reputações. O estudioso Jean Sareil afirma que “Personne n´a jamais flatté aussi bien et avec autant de succès que Voltaire” (“Ninguém bajulou tão bem e com tanto sucesso quanto Voltaire”.) Essa sua fama diabólica cresceu ao longo do século XIX. Para os românticos, o autor de “Cândido” não passava de um “apóstolo da impiedade”, de uma “serpente venenosa”. Alfred Musset referia-se a Voltaire como o homem do “hideux sourire” (“sorriso hediondo”). Essa caracterização tem um fundo de verdade, contudo, não podemos esquecer que a adulação das pessoas próximas ao Rei e o humor corrosivo do autor foram armas incisivas contra a intolerância. Não por acaso, Paul Valéry afirmou: “O sorriso hediondo de Voltaire acabou com muita coisa hedionda no mundo”.

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