domingo, 4 de abril de 2010

Albert Camus: entre Lourmarin e o Panteão


Entre 1935 e 1937, Camus foi membro do Partido ComunistaFrancês, do qual se desligou por discordar da estratégia adotada em relação à Argélia. Continuou sua militância política no Alger Républicain, para o qual escrevia também sobre literatura e questões judiciárias. Seus escritos contribuíram para a libertação de acusados.
Em 1939, avaliou mal o perigo nazista e não apoiou a Guerra. Nesta altura era editor do Le Soir Républicain, que foi banido em 1940. Volta para a Argélia onde escreve romances e ensaios que o consagrarão definitivamente. Em 1942, Pascal Pia convence o editor da Gallimard a publicar O Estrangeiro, o romance tornou-se rapidamente um best-seller. Ainda neste ano, sai o Mito de Sísifo pelo mesmo editor. Neste ensaio, lemos "o único problema filosófico verdadeiramente sério é o suicídio", introduzindo sua explanação sobre o "sentimento do absurdo". Camus aceita retirar o capítulo sobre Kafka para atender ao embaixador alemão na França ocupada, Otto Abetz, censor contumaz de autores considerados perigosos.
Ao contrário de certa visão idealizadora, tudo indica que Camus voltou à França em 1942 para tratar da tuberculose e somente depois entrou para a Resistência. Tal dado biográfico pouco altera a relevância de sua luta contra a violência, a tortura e a pena de morte.
Em 1957, ganhou o Nobel de literatura. Seu discurso de 14 dezembro daquele ano em Estocolmo tornou-se uma referência na crítica literária. Trata-se de uma belíssima reflexão sobre "o artista e seu tempo".
Em quatro de janeiro de 1960, vai a Paris de carona com um membro da família Gallimard. Em Villeblevin, o carro desgovernou-se, chocando-se contra uma árvore. Camus morreu na hora. Entre seus pertences, havia o manuscrito inacabado de O Primeiro Homem.
Recentemente, o presidente da França propôs a "panteonização" do escritor. Situado no monte Sainte-Geneviève no V arrondissement em Paris, o Panteão abriga, entre outros, os restos mortais de Victor Hugo, Émile Zola, Pasteur, além de um memorial dedicado a Jean Moulin, herói da Resistência, cujo corpo não foi encontrado. A iniciativa de Nicolas Sarkosy causou espanto entre os familiares de Camus. Um de seus filhos alertou para o oportunismo do chefe do Eliseu: antípoda de tudo que o autor argelino defendia. Mesmo sabendo que ficaria bem acompanhado ao lado de Rousseau e Voltaire, tão independentes e contestadores quanto ele, certamente o autor de A Peste preferiria continuar descansando sob o sol da Provence, na tranquila e charmosa Lourmarin.

2 comentários:

  1. LULI,

    Concordo que o Sarkozy é oportunista. O Camus está bem onde está.

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  2. Também acho. De nada vale a companhia (em matéria) daqueles em que o mais valioso foram as idéias. E essas ideias e ideais não precisam de lugar fixo, mas sim se espalhar com o vento. Sobre a terra e não sob ela. Pelo menos é o que eu acho.

    Um bjo.

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