Paulo, diretor de desenvolvimento de um banco, redige uma carta de intenções para obter o posto no projeto China. Paula, secretária limitada que provavelmente nunca irá muito longe, ajuda-o nessa tarefa encontrando forças ao olhar a foto do sobrinho. Desde a infância, Paulo reclama de uma dor nas costas, caminhando do baço à coluna vertebral, do ombro direito ao esquerdo- a solução para tal incômodo talvez se encontrasse na terra do Grande Timoneiro.
O inquieto protagonista redige um livro destinado aos homens de negócios. Poderíamos reunir seus conselhos em um novo Dicionário de ideias feitas. De fato, a maneira de Flaubert, faz uma crítica corrosiva ao senso comum que nos escraviza intelectualmente sem nos darmos conta disso. Assim, orientava os futuros executivos sobre a fidelidade e o segredo corporativos, a vantagem de enviar instruções por e-mail, mantendo uma cópia de tudo, além de evitar falatório entre colaboradores, a importância de contar com uma equipe afinada, cada membro estando ciente de suas responsabilidades, ou ainda "/.../ o bom profissional, aliás, o melhor de todos, é aquele que sabe reconhecer suas carências e, portanto, não vacila ao pedir ajuda enquanto se fortalece". Continuam, ao longo do romance, as prescrições para manter uma imagem perante o mercado.
Em narrativa na qual não faltam humor, ironia, mistério e suspense, o romance envolve-nos em uma trama de subentendidos. O leitor sorri descobrindo a desfaçatez da personagem protagonista, obcecada em tornar-se o homem de confiança do chefe todo-poderoso. Ao longo dos capítulos, desnudam-se, de forma cáustica, não apenas o mundo corporativo, como também nosso meiozinho social desprovido de relações duráveis. Vive-se a angústia de destacar-se a qualquer preço- em detrimento da própria identidade.
Nessa empreitada de grande fôlego, Ricardo Lísias brinda o leitor com um texto intrigante e ousado, provocando certo mal-estar que persiste ao fim da leitura.
O Livro dos Mandarins. Ricardo Lísias, Rio de Janeiro, Objetiva, 2009.
Ana Luiza Reis Bedê
Lú, também fiz um blog! Fiquei com vontade!
ResponderExcluirNesses dias na minha aula de Gêneros da Narrativa o meu professor falou sobre Flaubert ao analisar um conto do Maupassant!
(gizemcores.blogspot.com)