quinta-feira, 25 de março de 2010

O Livro dos Mandarins: ironia e suspense no instigante romance de Ricardo Lísias

Paulo, diretor de desenvolvimento de um banco, redige uma carta de intenções para obter o posto no projeto China. Paula, secretária limitada que provavelmente nunca irá muito longe, ajuda-o nessa tarefa encontrando forças ao olhar a foto do sobrinho. Desde a infância, Paulo reclama de uma dor nas costas, caminhando do baço à coluna vertebral, do ombro direito ao esquerdo- a solução para tal incômodo talvez se encontrasse na terra do Grande Timoneiro.


O inquieto protagonista redige um livro destinado aos homens de negócios. Poderíamos reunir seus conselhos em um novo Dicionário de ideias feitas. De fato, a maneira de Flaubert, faz uma crítica corrosiva ao senso comum que nos escraviza intelectualmente sem nos darmos conta disso. Assim, orientava os futuros executivos sobre a fidelidade e o segredo corporativos, a vantagem de enviar instruções por e-mail, mantendo uma cópia de tudo, além de evitar falatório entre colaboradores, a importância de contar com uma equipe afinada, cada membro estando ciente de suas responsabilidades, ou ainda "/.../ o bom profissional, aliás, o melhor de todos, é aquele que sabe reconhecer suas carências e, portanto, não vacila ao pedir ajuda enquanto se fortalece". Continuam, ao longo do romance, as prescrições para manter uma imagem perante o mercado.
Em narrativa na qual não faltam humor, ironia, mistério e suspense, o romance envolve-nos em uma trama de subentendidos. O leitor sorri descobrindo a desfaçatez da personagem protagonista, obcecada em tornar-se o homem de confiança do chefe todo-poderoso. Ao longo dos capítulos, desnudam-se, de forma cáustica, não apenas o mundo corporativo, como também nosso meiozinho social desprovido de relações duráveis. Vive-se a angústia de destacar-se a qualquer preço- em detrimento da própria identidade.
Nessa empreitada de grande fôlego, Ricardo Lísias brinda o leitor com um texto intrigante e ousado, provocando certo mal-estar que persiste ao fim da leitura.
O Livro dos Mandarins. Ricardo Lísias, Rio de Janeiro, Objetiva, 2009.
Ana Luiza Reis Bedê

Um comentário:

  1. Lú, também fiz um blog! Fiquei com vontade!

    Nesses dias na minha aula de Gêneros da Narrativa o meu professor falou sobre Flaubert ao analisar um conto do Maupassant!

    (gizemcores.blogspot.com)

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