segunda-feira, 16 de junho de 2014

O artigo "Uma velha praga" de Monteiro Lobato


 

Um dos mais fascinantes, polêmicos e multifacetados autores brasileiros do século XX foi, sem dúvida, Monteiro Lobato. O estupendo sucesso da obra infantil do escritor paulista deixou na sombra sua atuação em outros domínios. O autor de Cidades Mortas esteve à frente de campanhas sanitárias, batalhou pelo voto direto, revolucionou o mercado editorial do Brasil e lutou tenazmente pela nossa auto-suficiência em ferro e em petróleo. Todas essas facetas, e muitas outras, serão exploradas nesse espaço. Hoje, gostaria de iniciar uma série de postagens para  lembrar a construção do emblemático Jeca Tatu e as controvérsias que gerou.  Em 1911, Lobato herda a fazenda Buquira de seu avô, o Visconde de Tremembé, decide deixar a pacata vida de promotor em Areias a fim de tentar a sorte como fazendeiro. Interessa-se de fato pela nova função, faz pesquisas sobre como melhorar a produção de café e milho. Também estuda a respeito do cruzamento de animais. Ao longo dos meses, porém, nota que seus esforços se deparam com um inimigo tenaz: o homem do campo. Em vez de respeitar a terra que lhe dá o alimento, o caboclo perpetua prática institucionalizada no interior paulista- as queimadas. Aos poucos a terra vai se tornando infértil.  Segundo o ponto de vista do então fazendeiro, o homem do campo não faz grandes esforços por julgar que não vale a pena. Assim, prefere permanecer com seu chapéu de palha, de cócoras, fumando cachimbo.  Lobato compara-o ao cogumelo parasitário da madeira podre, denominado por sua mãe de “urupês”. Em 1914, envia o artigo “A velha praga” ao jornal O Estado de São Paulo. Nesse texto, apresenta o homem da roça: “Este funesto parasita da terra é o CABOCLO, espécie de homem baldio, seminômade, inadaptável à civilização, mas que vive à beira dela na penumbra das zonas fronteiriças. À medida que o progresso vem chegando com a via férrea, o italiano, o arado, a valorização da propriedade, vai ele refugindo em silêncio, com o seu cachorro, o seu pilão, a pica-pau e o isqueiro, de modo a sempre conservar-se fronteiriço, mudo e sorna. Encoscorado numa rotina de pedra, recua para não adaptar-se.” Na excelente biografia “Monteiro Lobato: Furacão na Botocúndia” de Carmen Lucia de Azevedo, Marcia Camargos e Vladimir Sacchetta, lemos: “Monteiro Lobato é, acima de tudo, arguto crítico social, um homem preocupado com os destinos do seu país. E expõe, sem mistificação, a conduta do agente deletério, habitante das zonas limítrofes do mundo civilizado, onde jamais logra penetrar. (1997, p. 58). “Uma velha praga” saiu em destaque no Estado de São Paulo e fez enorme sucesso. Veremos os desdobramentos das polêmicas do incendiário artigo em postagens futuras.  

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