domingo, 18 de dezembro de 2016

Montaigne: sol, praia e reflexões





Antoine Compagnon- crítico literário respeitado e conhecido mundialmente- confrontou-se com um desafio em 2012: falar de Montaigne para um programa de rádio durante o verão. O resultado dessas intervenções  foi publicado sob o título Un été avec Montaigne (Um verão com Montaigne).
Trata-se de um livrinho composto de quarenta capítulos nos quais Compagnon aborda diferentes aspectos dos Essais (1595). O texto pode ser lido como uma iniciação à obra do escritor renascentista. Nesse sentido, o leitor descobre temas caros a Montaigne: a conversa, a fidelidade, as condições para a filosofia, o outro, a amizade, os livros, o retiro, o cepticismo e a morte.
Constatamos características da personalidade do autor dos Essais como por exemplo o fato dele lançar-se a uma conversa ou discussão não para vencer, mas para conhecer e aprender. Assim, Montaigne respeita as opiniões diferentes da sua, não se sentindo humilhado quando divergem de suas posições. O pensador não apreciava os interlocutores arrogantes que procuravam ter a última palavra a qualquer preço. Montaigne não começava uma conversa como se estivesse entrando em uma guerra. A propósito, o magistrado bordalês lamentava que seus contemporâneos não o contestassem muito por receio  de serem eles próprios contrariados. Assim, cada um se fechava com sua própria convicção.
Compagnon lembra a conhecida passagem que relata o encontro de Montaigne e três índios brasileiros (da França antártica) em 1562. Os habitantes do Novo Mundo surpreendem-se com o poder absoluto dos reis e com a obediência a uma criança - Carlos IX tinha doze anos! Os índios não entendiam tampouco o abismo que separava pobres e ricos.
A propósito, o autor dos Essais critica asperamente o fato de os europeus tentarem mudar os habitantes do Novo Mundo. Os índios foram corrompidos com o contato dos povos ditos civilizados. Ele foi, sem dúvida, um dos primeiros censores do colonialismo como sublinha Compagnon.
O professor do Collège de France examina pormenores do ensaísta como a sua grande sensibilidade à ambiguidade dos textos. Isso se deve muito provavelmente à sua formação de jurista, afirma Compagnon. De fato, o autor renascentista acredita que boa parte dos males do mundo se deve a questões gramaticais. Ele é bastante irônico em relação aos autores medievais que faziam glosas. Para Montaigne, seria fundamental a volta aos textos originais de Platão, Plutarco ou Sêneca.
Em outro momento, Montaigne tece elogios à viagem- por seu poder desestabilizador. A viagem é uma metáfora da vida afirmava o filósofo.
O capítulo 25 é dedicado ao livro: uma das grandes paixões do autor dos Ensaios. A leitura seria superior a qualquer tipo de relacionamento humano- ela nos leva a nos conhecer melhor.
Vale a pena mergulhar no mundo de Montaigne e para iniciar, nada mal esse livrinho de um dos mais férteis críticos do momento.

Un éte avec Montaigne de Antoinde Compagnon. Paris: Éditions des Équateurs, 2013.


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