sábado, 10 de dezembro de 2016

Poema pacifista de Boris Vian: "Le déserteur"



Boris Vian (1920-1959)  além de escritor, foi músico notável. Tocava sobretudo jazz, deixando inúmeros escritos  sobre o tema. Em 1946, publicou o romance J´irai cracher sur vos tombes (Cuspirei sobre seus túmulos), que trata da violência e do racismo,  provocando enorme escândalo.
L´écume des jours (1947) tornou-se uma de sua sobras mais conhecidas e teve boa  acolhida da parte de Raymond Queneau  e de Jean- Paul Sartre. Queneau afirmou tratar-se da história de amor  mais pungente do tempo. O sucesso de público, porém, veio apenas no final dos anos 1960.
Outro texto célebre é o poema « Le déserteur » no qual o autor revela sua aversão pela guerra. O caráter anti-militarista dos versos provocaram sua proibição durante vários anos e envolveu o poeta em embrólios jurídicos. Durante a guerra do Vietinã, « Le déserteur » tornou-se hino pacifista.
 Muito provavelmente Boris Vian redigiu o texto em vinte e quatro horas. O músico e poeta compõe também a melodia, ao contrário da maior parte de suas composições nas quais ele assina apenas a letra. Fruto de uma época ainda fortemente marcada pela repercussão da Segunda guerra, Vian posiciona-se diante dos fato sem radicalismo.
No texto, um jovem que acaba de receber sua convocação, escreve ao presidente da República. O início do poema é conhecidíssimo:  « Senhor presidente, escrevo-lhe uma carta que o senhor talvez lerá se tiver tempo ». Na sequência, o eu-lírico afirma que se recusa a aceitar sua convocação para a guerra porque não veio ao mundo para matar pessoas. Além disso, já vira seus irmãos partirem e seu pai morrer. Em passagem ousada do poema, o eu-lírico sugere ao presidente que vá ele próprio oferecer seu sangue pela pátria, já que este seria « bom apóstolo ».
Mouloudji (1922-1994) gravará « Le déserteur », mas solicita duas modificações. A primeira diz respeito à apóstrofe do início que passa a ser «Messieurs qu'on nomme grands…», em português ficaria algo como « Senhores que chamamos grandes » com prejuízo do sentido e do ritmo do verso. A segunda modificação diz respeito ao final. No poema original, o desertor declara que está armado e, caso seja preso, poderá atirar contra os soldados. Na versão light cantada pelo autor de Comme un p'tit coquelicot , ao contrário, o jovem avisa ao presidente que se os soldados o perseguirem, poderão atirar pois se encontra desarmado. Trata-se, como se vê, de versão bastante atenuda.
Este belo poema foi traduzido para  dezenas de idomas e interpretado  também por Richard Anthony, Marc Lavoine, Juliette Gréco.
                                    
Le  Déserteur
Monsieur le Président
Je vous fais une lettre
Que vous lirez peut-être
Si vous avez le temps
Je viens de recevoir
Mes papiers militaires
Pour partir à la guerre
Avant mercredi soir
Monsieur le Président
Je ne veux pas la faire
Je ne suis pas sur terre
Pour tuer des pauvres gens
C'est pas pour vous fâcher
Il faut que je vous dise
Ma décision est prise
Je m'en vais déserter

Depuis que je suis né
J'ai vu mourir mon père
J'ai vu partir mes frères
Et pleurer mes enfants
Ma mère a tant souffert
Elle est dedans sa tombe
Et se moque des bombes
Et se moque des vers
Quand j'étais prisonnier
On m'a volé ma femme
On m'a volé mon âme
Et tout mon cher passé
Demain de bon matin
Je fermerai ma porte
Au nez des années mortes
J'irai sur les chemins

Je mendierai ma vie
Sur les routes de France
De Bretagne en Provence
Et je dirai aux gens:
Refusez d'obéir
Refusez de la faire
N'allez pas à la guerre
Refusez de partir
S'il faut donner son sang
Allez donner le vôtre
Vous êtes bon apôtre
Monsieur le Président
Si vous me poursuivez
Prévenez vos gendarmes
Que je n'aurai pas d'armes
Et qu'ils pourront tirer

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